Para mim, economizar é uma palavrinha de ordem. Fora que curto demais a liberdade de sassaricar no destino, parar no que realmente me interessa e não no que acham legal por mim. E, na ida à ilha de Delos não seria diferente.

Agora, se você quiser pagar um guia, não te condeno. Tem suas vantagens também. Ele vai te contar tudo o que sabe do jeito mais bacanudo que souber e vai te deixar encantado pela história do lugar, sem que você tenha que fazer nenhum esforço. Nenhum mesmo: nem o de imprimir o mini guia aqui embaixo ou ler as placas explicativas do local. Se quiser saber os valores, horários e tudo o mais que esperar, a gente falou disso bem aqui.

Mas hoje a gente vai falar para quem está a fim de explorar tudo por conta própria. Hoje, a ilha de Delos é sem guia. Bora?

|Detalhes práticos de como montar o passeio para a ilha de Delos.|

Um guia para quem vai sem guia

Quero ver logo os leões!

Você escolhe um dos sentidos para percorrer: horário (seguindo pela direita de quem entra) ou anti-horário (esquerda). Escolhemos esse último, porque chegaria mais rápido ao Terraço dos Leões, um dos lugares mais fotografados da ilha.  Nesse sentido, o primeiro ponto interessante de parada é a Ágora dos Competaliastos, uma praça onde funcionava um dos principais mercados da cidade. Num dos lados da Ágora, ficava o Pórtico (Stoa) de Felipe e o Templo de Hermes, o deus do comércio.

Ilha de Delos - Ágora dos Compeliastos
Ágora dos Compeliastos

 

Ilha de Delos - Pórtico de Felipe
O Pórtico de Felipe: enorme!

O próximo item da lista é o Colosso de Naxos, que era uma estátua gigante com uma representação nua de Apolo. Hoje em dia, só restam partes dele no lugar: um pedaço do tronco e da pelvis, bem descaracterizados. O Museu Britânico tem uma parte da perna esquerda e, bem ali no Museu Arqueológico de Delos, fica a mão esquerda do bendito. A cabeça da estátua, segundo as informações do local, foi cortada por algum capitão britânico ou pelo governador veneziano de Tinos e está desaparecida até hoje.

Ilha de Delos - Zoom Placa explicativa Colosso de Naxos
Como era e como ficou o Colosso de Naxos

Bem nessa “meiuca” de Naxos você vai encontrar o Templo de Apolo. Considerando as origens míticas da ilha, esse é um daqueles que não dá para deixar de ver vindo aqui, né?

Mais para a frente, você vai passar pelo Templo de Leto e pela Ágora do Italianos, um mercado construído pelos mercadores italianos e também era usado por eles como um clube, se é que se pode dizer assim.

Depois disso, chegamos finalmente ao Terraço dos Leões! Os leões foram esculpidos em mármore pelos naxos lá pelos idos do século 7 a.C.. A ideia é que eles fossem guardiões do Santuário e do Lago Sagrado, onde teria nascido Apolo. O lago hoje está seco e só restam cinco leões, que, pelas estimativas, eram entre nove e dezenove.

Ilha de Delos - Terraço dos Leões
O Terraço dos Leões, finalmente!

Depois de ficar babando pelos leões e tirar muitas fotos, vou te falar a verdade: esses aí são réplicas. Os originais estão guardadinhos no Museu Arqueológico e você pode visitar.

Seguindo o caminho, você encontra a Casa do Lago, que é uma versão das residências da época. Nela você vê um pátio com colunas enormes cercado pelos cômodos, era o jeito de garantir a claridade da casa, afinal, o povo vivia sem eletricidade (nem computador, nem internet… meu Deus! Dá para imaginar? :P)

Pausa para o Museu

Nesse ponto, a gente pode dar uma pausa na visita externa e entrar no Museu. Acaba sendo uma ótima opção para dar um alívio no sol na cabeça. Na área externa dele, você acha os banheiros e um local para comprar algum lanchinho (se tiver com muita vontade, porque vai ser caro!).

Ilha de Delos - Dionísio e o tigre
O mosaico de Dionísio montado no tigre

Enfim, dentro do Museu Arqueológico de Delos, você vai encontrar várias peças originais, frutos das escavações da própria ilha. Tudo com plaquinha explicativa para você não se perder. Lá, os musts são a mão do Colosso de Naxos e os leões originais do terraço, claro, como também o mosaico original da Casa de Dionísio (que a gente já vai ver na continuação do tour), onde o deus grego aparece montando um tigre.

Subida ao Monte Kynthos

Saindo do museu, pega fôlego para subir até o Monte Kynthos. Achei mais charmoso que usar esse nome ao invés daquele em em português: Monte Cinto.

Nesse trajeto, você está andando na direção dos templos dos deuses estrangeiros. Por aqui, você vai achar um dos mais bem conservados da ilha, o da deusa egípcia Isis. Dentro do Templo de Isis, ainda dá para ver os resquícios da estátua dela. Por conta de Delos ter sido não só um centro religioso, mas também fazia parte de uma rota comercial importante, acabaram acontecendo algumas misturas culturais no caminho. Por isso, a gente acaba vendo um templo no maior estilo grego, com uma deusa do Egito.

Ilha de Delos - Templo de Isis
O Templo de Isis: o mais bem conservado

A boa desse caminho é ir aproveitando a beleza da ilha e dar um tempo para imaginar como as pessoas viviam aqui. Para quem curte a história do filho meio humano e mais famoso de Zeus, é bem por aqui que fica a gruta de Hércules.

Chegando no topo do Monte Kynthos, a gente vê os Santuários de Zeus e Atenas.  Mas o que chama mais atenção mesmo é a uma vista panorâmica de Delos e a chance de namorar de longe as ilhas de Mykonos, Rineia, Naxos, Paros, Tiros e Siros. É muita beleza junta! Então, haja fotos!

Ilha de Delos
Do alto do Monte Kynthos: era uma ilha chamada Delos, me apaixonei por ela (a Casa das Máscaras ali embaixo)

O bairro do Teatro

Descendo, a gente vai se deparar com o bairro do Teatro e suas casas luxuosas da época, muito bem conservadas. Vai ter a Casa das Máscaras, com seus mosaicos dramáticos no chão dos seus quatro quartos, a Casa dos Golfinhos, que tem esse apelido por conta das figuras desses bichinhos fofos no chão, e a Casa do Tridente, que devia ser de um comerciante da época. É por aí também que fica a tal Casa de Dionísio, que a gente tinha comentado antes, e uma réplica do mosaico dele com o tigre, que vimos no museu.

Ilha de Delos - Casa de Dionísio
A casa de Dionísio e onde ficava o mosaico

Outra casa curiosa na região é a de Cleópatra. Justamente pelo nome, né? Mas, calma que essa não tem nada a ver com aquela egípcia do Marco Antônio que a gente tanto ouve falar. Esse era um nome grego que vem de “Cleo”, que quer dizer, alegria e “patra”, que vem de pai. Ou seja, Cleopatra é um nome carinhoso que quer dizer “alegria de seu pai”. Essa era uma senhora bem rica em Delos que mandou construir a casa depois que ficou viúva. Na entrada, dá para ver as estátuas dos dela e do marido com os nomes escritos e tudo, mas sem cabeça. A ideia aqui era ver como eles eram bonitos e nadavam na grana.

Ilha de Delos - Casa de Cleopatra
Cleopatra e o marido Dioskurides (foto: Wikimedia Commons/Olaf Tausch)

Para fechar a visita, a gente desce até o Teatro de Delos. Ele é aquele típico teatro da época: semicircular e com assentos de mármore. Dava para 5.000 pessoas! Os únicos assentos com encosto são os das pessoas importantes da época, claro.

Ilha de Delos - Teatro
No Teatro de Delos: as únicas cadeiras com encosto nos lugares mais a frente pertenciam às pessoas mais importantes

Mas o que chama a atenção aqui é a inteligência do povo. Eles aproveitavam a água da chuva que caía pelas pedras do Teatro e acumulava numa cisterna que eles usavam para abastecer a cidade. É ou não é de deixar a gente meio bobo?

E a nossa visita se encerra aqui, com direito a muitas fotos, histórias e vistas bacanas! 🙂

Curiosidades sobre a ilha de Delos

1. Hera, a esposa traída de Zeus, fez um acordo com Gaia, a deusa da Terra, que não desse abrigo a Leto, assim ela não conseguiria dar a luz. Para fechar o pacote, Hera ainda mandou um monstro perseguir Leto, a tal Píton. No fim das contas, Leto só conseguiu ficar em Delos porque era uma ilha flutuante e, portanto, não era ligada à Gaia. Há quem diga que Poseidon, deus dos mares e tio dos bebês, criou Delos para que Leto pudesse, finalmente, dar à luz. Enfim, essa história tem várias vertentes. Pick your poison! 😛

2. Por conta do dito nascimento de Apolo na ilha, ela virou a sede do Templo dele.

3. A ilha era tão sagrada que ninguém podia nascer ou morrer lá.

4. A ilha é habitada desde 3.000 a.C. Pois é.Você leu direito. Tempo para caramba!

5. Em 479 a.C., o povo de Atenas formou a Liga de Delos, para proteger a ilha. E deu certo: eles dominaram a região.

6. Em Delos, acontecia o Festival Delia, em homenagem ao deus Apolo. Rolavam muitos jogos, música e teatro. Os povos vizinhos chegavam a pagar tributo à Liga de Delos para participar dos eventos, de tão bons.

7. Por ser uma rota comercial importante, Delos acumulou muitas riquezas, a ponto de ser invadida por povos como os Bizantinos e Venezianos. E aí, a vida da ilha não foi mais a mesma. Inveja, é uma coisa…

Enquete

Quem aí ficou com vontade de conhecer a ilha de Delos?

Apaixonada pela vida, tenta viver a expressão "carpe diem". Acredita que cada viagem é um meio de aprender mais sobre a humanidade e o seu próprio eu, por isso ama pôr o pé na estrada. Gosta de contribuir para que outras pessoas tenham experiências cada vez melhores de viagem, por isso quando sabe que um amigo vai viajar, já vem com sua listinha de dicas. A melhor viagem? É sempre a do momento.

1 COMENTÁRIO

  1. Oi Dayana, tudo bem? Acabo de sair da ilha de Delos. Confesso a você que ainda na ida, fiquei receosa de ir sem guia, pois estou sozinha e meu inglês não e fluente, mas graças a seu post ( que por acaso, li na embarcação), deu tudo certo! Passei por todos os monumentos que você descreveu.
    Estaria perdida! Muito obrigada mais uma vez. Bjs

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